A poeta Bruna Beber
Helder Ferreira
Sanduíches de mortadela, cerveja em copos americanos, algodão-doce e um realejo (com periquito e tudo mais) tomaram conta do Espaço Revista CULT na última quinta-feira, quando a poeta, de 29 anos, Bruna Beber lançou seu mais novo livro, Rua da padaria (Ed Record, 64 págs, R$24,90). A ideia era transportar para a Vila Madalena um pouco da atmosfera da via da periferia de Duque de Caxias (RJ) que inspirou a poeta e empresta nome ao seu quarto livro.
Sensação na última Feira Literária de Paraty, quando participou da mesa de discussão sobre o a influência do cotidiano na poesia e vendeu cerca de 400 livros, a fluminense, que há sete anos coleciona lares em São Paulo, tendo morado em oito casas diferentes, diz ter se inspirado em memórias de sua infância, principalmente as vividas na casa de sua avó, que morava perto da referida rua, para escrever. “É uma junção de frases que eu ouvi e de sentimentos que foram despertados em mim a partir dessas frases”, conta ela, que diz ter escrito o livro todo em São Paulo. “Acho que só assim mesmo… Se estivesse lá, não teria conseguido escrever; precisava do distanciamento, estar afastada da família e fora deste contexto”.
São, aliás, as coisas banais que inspiram Bruna. “Qualquer coisa me inspira, quanto mais ordinária e banal. Sei lá, eu sempre sacaneio meus amigos falando que vejo poesia em todas as coisas… Não são todas, isso é impossível, mas acho que o cotidiano se refere a isto – o banal em detrimento do sublime. Eu vejo o banal, o ordinário, como algo sublime”, filosofa. E ela acredita que foi isto que levou os visitantes da FLIP a se interessarem por seu trabalho. “Senti que as pessoas sentiram uma identificação; acho que perceberam uma porta aberta na poesia. Talvez, alguns tenham se sentido na casa da avó também”.
O pequeno livro, de pouco mais de 60 páginas, levou quatro anos para ficar pronto. Ela diz que a demora foi benéfica: “Tive tempo de fazer tudo o que queria com ele. Li em vários lugares, participei de alguns eventos que misturavam artes plásticas, música e literatura. Uns poemas eu cantei, outros me gravei declamando, outros alguns amigos musicaram, outros eu imprimi em canecas e espalhei pela casa para ver se sobreviveriam ao meu incômodo com certos detalhes. Eu estava buscando uma simplicidade, mas acho que é difícil pra caralho!”, esbraveja.
Para o evento de lançamento, ela convidou os poetas (e amigos) Marcelino Freire, Angélica Freitas e Omar Salomão para declamarem algumas de suas criações. Cada um leu 4 poemas.
Confira vídeo gravado, no Espaço CULT, durante a leitura (Imagens: David Alves Silva)
“A poesia da Bruna é uma poesia que não quer ser poesia, parecida com a da Angélica Freitas. Eu detesto poesia que quer ser poesia. A dela vence, já que ela é a Leminski de saias, ela, distraída, vence”, declarou Freire, fazendo menção ao apelido dado pela jornalista Raquel Cozer ao escrever sobre o comentário de Ruy Campos, proprietário da Record, que comparou o sucesso de Rua da padaria, na FLIP, ao de Toda Poesia, da Cia das Letras. “A poesia dela é coloquial, tem essa força de uma poesia que quer apenas dizer, não precisa ficar aí se armando de uma pseudo-poesia”.
Quem também passou pelo Espaço CULT foi a cantora e compositora Marina Lima, que conheceu o trabalho da poeta quando esta lhe presenteou com seu terceiro livro em um evento no Rio de Janeiro. “Eu gostei da poesia dela e aí, depois, quando estava fazendo um livro, meu editor, Eduardo Coelho, sugeriu que ela escrevesse um poema para compô-lo. Por fim, não rolou, mas acabamos ficando amigas. Eu acho a Bruna uma poeta de mão-cheia”.
Após lançamento do quarto livro de poesia, a “Leminski de saias” pretende se enveredar pela prosa. Ela prepara, para o ano que vem, um romance cuja trama é ambientada na Baixada Fluminense dos anos 1990. E isto é tudo o que ela quis revelar.
